
“De fato, todos os que desejam viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos.” (2 Timóteo 3:12)
Vivemos tempos em que a liberdade de culto e expressão religiosa é, para muitos, algo garantido e até mesmo subestimado. Contudo, para milhares de nossos irmãos em Cristo espalhados pelo mundo, especialmente em países islâmicos, professar a fé cristã pode ser uma sentença de prisão, tortura ou morte. A perseguição religiosa é uma realidade dolorosa e, infelizmente, crescente em diversas nações. Este artigo se propõe a lançar luz sobre essa realidade, à luz das Escrituras, oferecendo reflexão, consolo e ação à Igreja livre.
Panorama da Perseguição aos Cristãos em Países Islâmicos
A perseguição religiosa a cristãos não é um fenômeno novo, mas sua intensidade tem se agravado em diversas partes do mundo. Países como Afeganistão, Irã, Paquistão, Somália, Nigéria, Sudão e Síria têm se destacado como locais onde seguir a Cristo exige não apenas coragem, mas, muitas vezes, o sacrifício da própria vida.
Segundo organizações como a Missão Portas Abertas, milhões de cristãos enfrentam hostilidade extrema. O relatório anual “Lista Mundial da Perseguição” revela que a maioria dos países com maior nível de perseguição são de maioria muçulmana, onde governos autoritários, extremismo islâmico e instabilidade social formam um cenário opressor para qualquer manifestação cristã.
Um caso recente, noticiado pelo portal Guia-me, expôs o massacre ocorrido na Síria, em Suweida. Em apenas 72 horas, mais de mil pessoas de minorias, especialmente cristãos e drusos, foram brutalmente assassinadas por forças militares sírias e por terroristas do grupo Estado Islâmico (ISIS). A grande mídia tem noticiado apenas parte dessa tragédia, enquanto os relatos completos vêm sendo ignorados por muitos órgãos internacionais.
O pastor Joel C. Rosenberg, editor-chefe do All Arab News, questiona: “– Onde está o clamor global? Não podemos permanecer em silêncio diante de tais atrocidades.”
Relatos de Fé e Resistência: O Martírio do Pastor Khaled Mezhir
Em meio a esse cenário tenebroso, surgem histórias de fé inabalável, como a do pastor Khaled Mezhir, da Igreja Evangélica Bom Pastor em Suweida. Ex-druso convertido a Cristo, Khaled proclamava o Evangelho com fidelidade mesmo diante de constantes ameaças.
Em carta enviada a apoiadores de oração, um pastor árabe relatou com dor:
“É com profunda tristeza e lágrimas que compartilhamos a triste notícia de que nosso amado irmão e pastor, Khaled Mezhir, foi martirizado por sua fé — juntamente com sua esposa, seus pais e mais de 20 familiares. Eles foram brutalmente assassinados hoje.”
Esse mesmo pastor relatou que a igreja em Suweida está agora dispersa. Muitos irmãos estão desaparecidos, sem comida, água, eletricidade, internet e sob constante ameaça, mesmo após a promessa de cessar-fogo. Os sobreviventes enfrentam um sofrimento inimaginável.
O clamor dos irmãos perseguidos é urgente. Entre os pedidos de oração destacados estão:
- Consolo e força aos sobreviventes e familiares do pastor Khaled;
- Proteção e perseverança para os fiéis que permanecem em Suweida;
- Milagres de provisão em meio à crise humanitária;
- Sabedoria e recursos para alcançar os deslocados e feridos.
Base Bíblica para a Perseguição: Uma Promessa Difícil
A Bíblia não esconde dos seguidores de Cristo a realidade da perseguição. Pelo contrário, ela a anuncia como parte inerente à vida do discípulo fiel.
Jesus declarou:
“Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus.” (Mateus 5:10)
E ainda:
“Se o mundo os odeia, saibam que me odiou antes de odiar vocês.” (João 15:18)
O apóstolo Paulo, que sofreu prisões, açoites e perseguições constantes, afirma que todos os que desejam viver de forma piedosa serão perseguidos: “E também todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições.” 2 Timóteo 3:12.
A história bíblica está repleta de exemplos:
- Estêvão, o primeiro mártir cristão (Atos 7);
- O profeta Jeremias, perseguido por denunciar o pecado da nação;
- Os apóstolos, que enfrentaram prisões e rejeições por pregarem o Evangelho.
A realidade atual em países como a Síria apenas confirma o que já foi profetizado. A perseguição, longe de ser um sinal de derrota, é uma evidência de fidelidade a Cristo.
Reflexão para o Cristão Brasileiro: Liberdade com Responsabilidade
Enquanto nossos irmãos sírios enfrentam a morte por amor a Cristo, muitos cristãos em países como o Brasil desfrutam de liberdade religiosa plena. Podemos nos reunir, pregar, evangelizar e publicar conteúdos cristãos sem risco de prisão. Esse contraste deve nos levar à gratidão, mas também à responsabilidade.
- Estamos usando nossa liberdade para interceder por quem não a tem?
- Estamos valorizando a Palavra, as igrejas e as oportunidades de culto?
- Ou temos vivido uma fé acomodada, distante do clamor dos que sofrem?
Muitos cristãos perseguidos oram não por alívio, mas por perseverança. Eles não pedem o fim da dor, mas firmeza na fé. Como Igreja livre, devemos responder com oração constante, apoio financeiro a missões, divulgação de informações verídicas e engajamento.
Aplicações Práticas e Espirituais
1. Ore com propósito e fervor
A oração é poderosa. Mesmo que não possamos estar fisicamente com nossos irmãos, podemos sustentá-los espiritualmente. Ore:
- Pelo conforto e força das famílias enlutadas;
- Pela proteção dos cristãos escondidos ou deslocados;
- Para que o Evangelho continue avançando mesmo em meio à dor;
- Pela conversão de perseguidores e líderes governamentais.
2. Apoie missões que atuam em países perseguidos
Organizações como a Missão Portas Abertas atuam diretamente com cristãos perseguidos. É possível contribuir financeiramente, divulgar materiais, participar de campanhas e eventos de conscientização.
3. Eduque sua igreja local
Promova momentos de oração coletiva, cultos de intercessão e estudos sobre a Igreja perseguida. Ensine sobre os riscos que missionários enfrentam e desperte a sensibilidade espiritual nos membros.
4. Prepare-se espiritualmente para tempos difíceis
A liberdade pode não ser eterna. É sábio fortalecer nossa fé enquanto temos paz. Estude a Palavra, fortaleça sua vida de oração, sirva à sua comunidade e esteja pronto para confessar Cristo mesmo diante de oposição.
Um Só Corpo, Um Só Clamor
A Igreja é uma só. Se um membro sofre, todos sofrem com ele: “De maneira que, se um membro padece, todos os membros padecem com ele; e, se um membro é honrado, todos os membros se regozijam com ele.” 1 Coríntios 12:26. A dor dos cristãos sírios, nigerianos, iranianos ou paquistaneses deve ecoar em nossos corações. Não podemos permanecer em silêncio.
O pastor árabe que escreveu sobre o martírio do pastor Khaled encerrou sua mensagem citando o Salmo 34:18: “Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado, e salva os contritos de espírito.”. Que esta promessa seja nossa certeza. Que o Senhor se levante como refúgio para Seus filhos em perigo, e que nós, como parte do Corpo de Cristo, sejamos vozes de clamor, mãos estendidas e corações intercessores.
Vamos nos unir como um só Corpo, clamando por misericórdia e libertação sobre Suweida e todos os nossos irmãos e irmãs na Síria. Que cada oração seja um ato de fé e cada contribuição, uma semente de esperança.
“Lembrai-vos dos presos, como se estivésseis presos com eles, e dos maltratados, como sendo-o vós mesmos também no corpo.” Hebreus 13:3.